Nem por favor muito menos obrigado

As palavras só ganham sentido quando usadas. E a boca mente. Ou melhor, muda os significados de todas elas.
Ano passado, conheci uma pessoa (sem nome, idade ou pistas) que era muito educada. Muito mesmo. Sempre com um “obrigado” na ponta da língua para toda e qualquer circunstância. Mas...
Soava falso. Ela não parecia agradecer o favor com educação, mas com educação fingir ser quem não era. Demonstrava uma gratidão que – era evidente – não sentia.
As frases saem da boca e unidas no ar se transformam em máscaras. E cobrem os rostos. Mas, como pedaços de papel empapados em cola, se moldam. E um pouco de tempo basta para igualar a forma aos traços da cara.
Por outro lado, há silêncios que valem mais que mil palavras. O ouvido não escutou um “eu te amo” e o coração já se sentiu intensamente amado.
Mas exigimos discursos tal qual um Rei Lear. Somente mais tarde percebemos que não demos nosso reino a quem de verdade nos devotava amor.
O erro ocorre quando preferimos escutar a observar ou a reconhecer.
A observar que há verdades sem palavras e palavras sem qualquer pingo de verdade.
A reconhecer que palavras também são como vidro. E vidro não esconde muito menos engana.
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